quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

NEW ORDER




Na Terra do Nunca, como costuma sonhar em viver uma amiga chegada, contorno quadras da capital em um circular. Reflito sobre uma simples intervenção dermatológica que me fez parar para escrever. Uma microqueimadura precisa, um ponto coberto de casca, casca essa coberta por uma bandagem 100 vezes maior do que o furo. Cauterizei um vaso na face.
Até aí, tudo bem. Segundo a médica, milhares de pessoas o fazem diariamente. Acontece que o curativo, grande em demasia, causou-me um desconforto inexplicável ao me deparar com olhares curiosos por todos os lados. Não sabia seus nomes, tampouco suas profissões. Mas a velocidade dos olhares era tamanha que mal pude perceber que a parada na qual deveria descer já havia passado há 15 minutos...
Já em casa, após um desabafo diante do espelho, comecei a desconfiar que a beleza pode importar e influenciar em nossas vidas em uma proporção além do imaginável e consciente. Mesmo aqueles que a condenam, duvido não se pegarem admirando-se no reflexo de uma vitrine, ou ajeitando o cabelo no espelho de um elevador...
Somos vaidosos por natureza, e por conseqüência da globalização que trouxe consigo ditaduras muito piores do que a de 64. É essa tal ditadura da beleza, com seus padrões e convenções que nem nós e talvez nem nossos filhos poderão explicar um dia, apenas executar, como um comando de Windows.
Foi estranho ver o porteiro, que às vezes nem sequer deu-me bom dia num dia difícil, perguntar afoito sobre o curativo. O mesmo ocorreu na saída da clínica, no trabalho e até na farmácia! Curativos agridem? Acho que alguém ditou isso e esqueceu de me avisar...

E o pior é que antes de iniciar este devaneio, em busca de respostas, arranquei o imenso curativo e o substituí por um discreto Band-Aid 2x2cm...