terça-feira, 17 de abril de 2007

POR QUÊ?

Pergunto-me por que todos os dias. Até por que precisamos dormir me peguei indagando na insônia. A conformidade com filosofias prontas só funciona como conselho, não como filosofia própria. Quero saber. Saber o que vou almoçar amanhã tanto quanto se vou viver cem anos, rodeado de bisnetos. Embora sem respostas às minhas questões existenciais, uma eu saberia responder. Se me perguntassem qual palavra do dicionário eu mais atribuo significado, por exemplo, confesso que demoraria um pouco. Mas se perguntassem qual eu mais repudio, seria fácil, fácil. Distância, na lata. Só não sei por quê. Por que eu mentiria.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

OBRIGADO

Que seja transparente enquanto dure, lembra?
Que infinito seja sinônimo de cada momento.
Que paz seja o que eu venha a sentir, na aurora.
A mesma pata que acaricia arranha.
A mesma boca que desprende sorrisos tem dentes afiados.
De repente ficava rindo à toa sem saber por quê.
Hoje sei o motivo de minhas lágrimas curtas.
Acredito em tudo até mesmo quando o espelho diz não.
Respiro tudo que adentra minhas narinas mesmo que arda.
Entendo tudo que tenha uma explicação cabível e sensata.
Não espero serenatas na janela nem pedras na mão.
Espero a oportunidade de te olhar nos olhos mais uma vez.
Seja essa a última ou mais uma. Seja essa inexistente.
Fico com a certeza de que tentei.
Tentei dar cores a um mar que era só azul.
Vida a um jardim de gérberas vermelhas.
Sonhos ao meu espírito impaciente, de tanto ócio.
Só quis sorrir de novo após tantas decepções.
Mas não esperava chorar de novo. De verdade.
Se um dia te encontrar, daquele jeito da vez primeira, usarei meu latim
para agradecer, não cobrar.
Agradecer por enxergar que eu valho muito.
E dizer, com honestidade, que gostaria muito de transmitir o significado
de sinceridade.
Externar os sentidos para além dos dicionários de folha.
Despedir-me das lágrimas com uma certeza absoluta: eu, pelo menos, acreditei.


domingo, 8 de abril de 2007

UM CERTO VILAREJO DE OUTREM

Apropriei-me de um sonho alheio. Há milhas e milhas daqui me teletransportei para um secreto vilarejo. Agora não mais secreto, o que não extingue o seu encanto. Ao pisar na grama verde, aves retorceram-se em desenhos no céu, como se anunciassem minha tênue chegada. Marasmo. Gostoso e desfrutável marasmo. Desfrutável como as maçãs verdes que choviam das árvores. O perfume da baunilha infestava o ar que teimava em abandonar minhas narinas. Senti paz como nos filmes de "happy end". O som das águas parecia uma sinfonia de Chopin. Na água pura e cristalina, peixes de escamas doiradas não disputavam espaço, de tão vasto córrego. As casas brancas e de janelas azuis eram mais belas que qualquer mansão urbana. Desapercebido de roupas, tornei-me camaleão e fundi-me àquilo tudo. Foi quando observei pessoas. Pessoas e seus movimentos. Mulheres negras de cutis luzidias, aparentemente macias como o algodão. Sobre suas cabeças balaios enfeitados com roupas, que balançavam como se acompanhassem o ritmo do cantarolar dessas mulheres. "Vem andar e voa, vem andar e voa..." Minha atenção, perplexa com a beleza inigualável da cena, muda de foco ao perceber um casal. Não sei definir seus sexos, tampouco cor, pois pareciam um só. Um que vale por mil formas de amar que poderia aqui descrever, antes de conhecer o vilarejo que povoa seus sonhos mais íntimos, agora compartilhados por minhas singelas palavras. Vida longa!