quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

(RE) TOMADA


Juiz de mim, permaneci sentado, no banco dos réus.
Da caneta só saía tinta para escrever na areia.
O raio da bicicleta girava depressa, como as imagens que surgiam na minha cabeça.
O tempo é realmente relativo. Às vezes sentimos distância entre dois dias, às vezes dois anos parecem ontem.
Teu olhar surpreendeu o meu, afoito pelo próximo passo.
Iniciou-se o julgamento, e me sentenciei livre.
Livre para tentar outra vez o que nunca foi deixado de lado.
Livre para sentir outra vez o que eu nunca havia me impedido.
O impossível é possível; basta retirar o prefixo e viajar alguns quilômetros.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

RESSURREIÇÃO

Depois de tempos sem me pronunciar, eis que ressurjo como fênix.
Parte de ti, ainda em mim, incomoda meus sentidos.
Parte de mim, ainda em ti, incomoda os teus?
Há um abismo que separa cada significação.
Inconsistência, incoerência, naturalidade.
Verdade travestida de acaso.
Do teu beijo, uma lembrança.
Do teu sorriso, uma saudade.
Das minhas gérberas, ausência de um vaso grande que as destaque.
Te procuro em corpos que não são o teu.
Te procuro em beijos que não são tão intensos.
Te busco em versos que não são poesia.
Te encontro nas minhas palavras, agridoces e sutis.
Um dia te paro, olho nos olhos e digo o que sinto: dúvidas.

sexta-feira, 7 de março de 2008

DEVANEADAMENTE SÃO


O significado de tudo está no dicionário. Está escrito e é regougado por pessoas de filosofias vãs, como eu. Mas quero a resposta de quem sou, enquanto me pergunto onde fui parar.

Abro e fecho a janela velozmente, tentando capturar a luz e dividi-la em partículas que estampem minha cortina. Insisto em inspirar o ar, já ralo nos meus pulmões pulverizados por vinte cigarros diários. E sinto cheiro de flor...

Das pétalas roxas, da gérbera que um dia foi vermelho-intenso, resta a volúpia de um remorso, como diria Wilde. Remorso de ter escondido, por tanto tempo, aquele quadro desfigurado no sótão da minha cabeça.

Nada de nostalgias específicas, nem sequer melancolias estrategiadas. Busco o equilíbrio, nessa corda-bamba que se apresenta como o hoje. Luto pela sanidade, nesse mundo que persiste no in.

Se fiz certo ou errado não sei. Só sei que foi assim. E que vou pagar pra ver.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A MANGA


De faca em punho arremango as mangas, e independente da redundância começo a introduzir a faquita na casca vermelho-alaranjada. Correm suas primeiras lágrimas, consistentes, mas não tenho dó, continuo por rixa a destrinchar a manga. Fruta madura que docemente me convida ao experimento. A cada fatia que levo à boca com delicadeza de artesão, uma nova sensação toma conta do organismo inteiro. Por um instante tornamo-nos um. Eu a experimentei enquanto ela era degustada pelo meu paladar afoito. Minutos depois, sem qualquer arrependimento, acendo um cigarro, digestivo próprio para a ocasião, enquanto aceno para as crianças da janela. Daquele dia resta a lembrança do sabor e o cheiro da casca, que levou três dias para sair do prato. Senti-me um sádico, embora nas semanas seguintes a manga tenha se tornado parte de um ritual de prazer gastronômico. Desvendei a manga, até sua exaustão, mas passei a invejar a pureza daquelas crianças...

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

QUINZE ETÉREOS MINUTOS

Quinze minutos separam a solidão da companhia ideal naquela fria noite de uma cidade desconhecida. Olhares trocados incitaram desejos recíprocos que se concretizaram num beijo de quinze minutos. Um quarto de hora é o tempo que o ônibus leva da parada onde descanso meus passos apressados até meu destino, próximo do tão sonhado repouso que nunca venço. Quinze etéreos minutos, o tempo de uma corrida no parque, o tempo de um atar de tênis sem pressa, o tempo de um olhar penetrar a retina alheia e ali permanecer. Obrigado a quem inventou o tempo. Obrigado por errar nas contas...

terça-feira, 21 de agosto de 2007

PERCEPÇÕES


Eu te percebo mais do que tu, porque tuas palavras pra mim são como fotografias aos olhos apurados de um fotógrafo. uma palavra que gera mais palavras. uma cor verde da vaidade daquele nosso mesmo mar...
do néctar que escorreu dos teus lábios - seja da manga madura ou dos pêssegos teimosos que insistiram em cair do pé antes da hora - um gosto doce ainda não desfrutado.
Teu filme, o melhor de todos, a própria vida bandida que a gente ama viver...
mas tua língua, ah sim a tua língua mais apreciada, é a tua própria voz.
porque cada vez que te escuto na minha imaginação, ouço a voz de um anjo.

terça-feira, 31 de julho de 2007

AO MENINO DO CASSINO


"Mesmo com a timidez do sol, percebi sua presença, pois não sentia frio de bermudas azuis naquela tarde nublada. Minha câmera era apenas uma extensão de meus olhos, que insistiam em buscar um fim no que não tem. Imenso mar que me enche de paz e dúvidas. Azul infinito que também torna-se verde, por natureza ou vaidade. Viro a câmera em direção ao meu rosto. Fotografo. Não faço um, mas vários registros e impressões que me ajudam a buscar quem eu sou. O problema é que acordei. Acordei e esqueci a cor do mar daquela tarde. Por isso volto à praia todos os dias. Um dia eu me encontro e me apaixono."