segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

SONHO ÚMIDO

Fumei um cigarro na chuva enquanto tecia sonhos ensolarados. A água que caía e molhava meus pés picava na brita bicolor, agora só cinza chumbo. Congelei por segundos lentos ao som de uma rádio desconhecida. A canção indecifrável para o meu inglês parecia me dizer algo que já sei. Acabo de lançar a 'bituca' ao léu, assistindo a chama resistir ao úmido. Seu último suspiro foi acompanhado pelo meu olhar atento. Um gato negro, esguiando-se da chuva, cruza meu caminho. Embora supersticioso, adoro gatos. E esse, em especial, trouxe-me sorte. Transformou-se em um robusto leão que acaba de atravessar meu portão. Independente de clima, continuo meus sonhos. Agora um pouco mais reais.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

DELÍRIO ANTES DE AMANHÃ

Fecho os olhos e vejo um lugar. Abro os olhos e encontro-me nele. Seu sorriso cumprimenta minha instável chegada. Olheiras, cansaço poupado pelas expectativas felizes. Presto atenção em cada detalhe do corpo, e no brilho dos olhos tento desvendar cada detalhe da alma. Procuro-me dentro de ti e me encontro. Encontro fragmentos de canções e versos. Sinto o vento gelar minhas canelas destapadas pela impressão de estar fazendo calor. Já é noite e continuamos ali, parados. A chuva começa a cair e encharca meus cabelos ralos, ao mesmo tempo em que o seu parece intocado. As estrelas perdem a intensidade do brilho, pois a lua ganha o papel-título de fundo da cena. Choro, grito, respiro fundo e perco a noção do que é fantasia e do que é real. Cada dia que passou no calendário, cada crédito que faltou no celular, cada informação desviada ou mal compreendida...tudo perde a validade nesse instante. Nesse instante. Corro em tua direção ao passo em que as dúvidas desconstroem-se e se remodelam rapidamente em exclamações. Saudade, saudade. Enfim, o grande beijo. Sabor Trident azul e Marlboro Lights. Nada mais importa. Estamos juntos mais uma vez. O que será, o que será? Isso o tempo responde, ou eu, quando findar o efeito do Apraz.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

O MENINO E O GUAÍBA


Pequenos grãos de areia restaram-lhe nos pés.
O menino correu o dia todo vislumbrando o pôr-do-sol do Guaíba.
Uma amiga jogou-se na água verde a devanear sobre a vida.
E ele continuou ali, sentado próximo ao orelhão.
O tempo passava e ele entristecia, pois o correr das horas o afastava cada vez mais do sonho ser real. Sonhara que veria um leão atravessar seu caminho, mas só encontrou rastros duvidosos na areia.
Não foi dessa vez que o sorriso se abriu. A lágrima escorrida tornou-se a última pincelada da grande obra que foi o dia.
Mas o menino não perdeu a esperança. Outro dia voltará à mesma areia. E as pegadas serão correspondidas...