
De faca em punho arremango as mangas, e independente da redundância começo a introduzir a faquita na casca vermelho-alaranjada. Correm suas primeiras lágrimas, consistentes, mas não tenho dó, continuo por rixa a destrinchar a manga. Fruta madura que docemente me convida ao experimento. A cada fatia que levo à boca com delicadeza de artesão, uma nova sensação toma conta do organismo inteiro. Por um instante tornamo-nos um. Eu a experimentei enquanto ela era degustada pelo meu paladar afoito. Minutos depois, sem qualquer arrependimento, acendo um cigarro, digestivo próprio para a ocasião, enquanto aceno para as crianças da janela. Daquele dia resta a lembrança do sabor e o cheiro da casca, que levou três dias para sair do prato. Senti-me um sádico, embora nas semanas seguintes a manga tenha se tornado parte de um ritual de prazer gastronômico. Desvendei a manga, até sua exaustão, mas passei a invejar a pureza daquelas crianças...
3 comentários:
Crianças sempre são seres invejáveis.Elas são sempre impressionantemente felizes e livres, o que, acabando assim com qualquer sensação maravilhosa que tenhamos experimentado. Ainda que, o prazer contido em algo doce, que sacia os prazeres mais engraçados.
bjooos
PS: desculpa a demora em comentar, e espero visitas no meu blog :P
pobre da manguinha, de vermelho-alaranjado ficou tisnada de cinza nicotínica (adoro inventar palavras, Galeano me inspira nessa manhã hahahaha). Agora... sobre a mesa estão as bananas!
beijook
Deliciosa e doce ternura!
Gostei! =D
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